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VII Encontro de Alunos da Educação de Jovens e Adultos – Rede Pública do Sistema Municipal de Ensino do Rio de Janeiro

EDUCAR PARA AS DIVERSIDADES CONTRA AS DESIGUALDADES

Primavera de 2012

Esse texto foi produzido juntando fragmentos dos textos coletivos que cada escola do PEJA escreveu explicando como elas educam para as diversidades contra as desigualdades.

 

 

“É na diversidade que se constrói a unidade.”

Somos diferentes. Diferentes mas iguais. Iguais no ciclo da vida. Somos iguais nas nossas dores. Iguais nas nossas alegrias. Somos cidadãos, temos direitos e deveres iguais. No entanto, há intolerância para aqueles que fogem de um padrão que o mundo estabelece. Vivemos num mundo desigual.

Nós somos um saquinho de retalhos que vem de todo o país, formando uma colcha linda, de diversas cores e formas. Por isso é que somos iguais, retalhos do mesmo saco.

Quando a gente pensa nesse lance de diversidade, logo pensamos no povo lá do Norte. A favela está cheia de gente de lá.  Aqui mesmo na escola temos muitos. Viemos para trabalhar e ganhar mais dinheiro, porque a vida lá no Norte é muito dura, mas aqui não é diferente. Dizemos que queremos voltar, mas o dinheiro nunca dá. E ainda temos  que ouvir as piadas do pessoal na favela e até aqui na escola, que nos chamam de cabeça chata.

       Na verdade, homens e mulheres, jovens ou idosos estão expostos a todo tipo de violência física, mental e econômica sendo que esta última agrava todos os outros problemas, pois sem dinheiro a alimentação é ruim, a saúde é prejudicada e a vida fica em preto e branco.

Para nós, alunos do PEJA (...) discutir a desigualdade e o preconceito é discutir nossas histórias, é discutir o acesso à Educação porque nossas histórias são de abandono e afastamento. A necessidade de trabalhar para ajudar a família, a falta de apoio da própria família que coloca empecilho quando obriga os filhos maiores a ficarem em casa para cuidar dos menores e a repetência escolar acabam afastando as pessoas da escola.

Estamos em busca de uma chance que nos foi tirada, pois precisávamos trabalhar para ajudar a família.

Horário de trabalho, violência, comodismo, cansaço físico e mental em decorrência de um dia de labuta, preconceito, desigualdade são algumas das adversidades pelas quais passam os alunos do PEJA.

As desigualdades sociais e econômicas não devem ser vistas como normais, mas possíveis de mudar. No mundo de hoje, há pessoas sofrendo com a desigualdade social, gente passando fome e outras estragando comida. Pessoas que moram debaixo de viadutos, nas ruas, em locais não apropriados para moradia, crianças chorando pedindo esmola, etc.

Desigualdade é um mal do capitalismo. Diferenças sociais onde muitos trabalham vendendo seu tempo, esforço físico, criatividade e conhecimento para poucos terem lucro real.

Lembro-me da minha difícil infância onde meu pai saía bem cedo para trabalhar e só voltava à noitinha. Naquele tempo não entendia direito tudo isso. Ele dedicava tantas horas de seu dia, todos os dias da sua vida e sua situação não mudava. E muitas vezes até faltava. Enquanto isso, ele ouvia dizer que a cada dia a empresa crescia e o dono dela acumulava cada vez mais riquezas e poder. Como pode muitos trabalharem para um só enriquecer? – perguntava eu. (...) E hoje pouco mudou. As diferenças ainda podem ser vistas, mas agora quem trabalha sou eu.

Mas cruel mesmo é a violência que mantém na miséria, grande parte da população do País que vivem sem as mínimas condições de sobrevivência, acarretando com isso muitas doenças e óbitos.

Uma boa educação possibilita a mudança de destino de um indivíduo, de um grupo, de uma classe, e deve ser feito a partir de um compromisso político, ético e profissional do professor e da escola. A responsabilidade é coletiva. Juntos em um só pensamento, unindo forças, vamos ultrapassando barreiras, rejeitando o que nos impede de sermos melhores uns para os outros.

Praticar a cidadania ativa é criar novos espaços de participação comunitária, de participação cultural, social e política que dão "voz e vez" a quem nunca teve. As eleições estão próximas e é hora de participar para transformar a nossa sociedade. Em nosso país o exercício da democracia é algo relativamente recente, devemos por isso tomar posse desse direito demonstrado no voto e fazê-lo de modo consciente.

No início tínhamos dúvidas e aflições. Não é fácil uma pessoa cansada, cheia de problemas, separar quatro horas da sua rotina diária para algo que um dia ficou tão distante dos seus planos por alguma fatalidade da vida. Mas foi então que chegou o primeiro dia: várias pessoas diferentes se reuniam em uma sala de aula. Logo os professores, com toda atenção, nos fizeram nos comunicar e dialogar. E assim foi dado o primeiro passo.

As aulas, com muitos debates e diálogos, nos fizeram perder o medo de errar e tivemos a liberdade de consertar esses erros. Hoje, certamente sabemos mais do que sabíamos há alguns meses atrás, não só em relação à disciplina, mas como pessoas, pois é muito importante trabalhar em grupo e se relacionar com os outros, pois as experiências de cada um nos faz crescer.

Aprendemos que (...) nada é imutável. A ignorância nos leva a praticar atos horrorosos de iniquidade, atos que jamais repetiremos após tantas informações sobre violência, diversidades e desigualdades. Podemos, com estes dados, nos tornar pessoas melhores e aprimorar a nossa condição de cidadão, de pai e de aluno. Também entendemos que somente conscientes do nosso papel como agentes de mudanças poderemos lutar corretamente contra a exploração que nos é imputada por esta sociedade injusta que dá privilégios para alguns e chicoteia e abusa de outros.

   Nos jogos cooperativos, percebemos que não existe um único vencedor, essa vitória é compartilhada com todo o grupo e os objetivos acabam sendo comuns a todos os integrantes.

   Não vamos pensar no ganhar do outro e sim no ganhar com o outro. 

Quando trabalhamos em conjunto, notamos que incluímos os demais colegas da classe, não trabalhando com exclusão,

   Nós concluímos que o trabalho coletivo é importante, porque assim, aquele que sabe menos não fica com vergonha e todos ficam incluídos na sala de aula, na turma e no grupo que está realizando aquele trabalho, "unidos com o mesmo objetivo de aprender". 

Devemos acreditar na escola como instituição atuante e de qualidade, realizando o sonho da maioria dos brasileiros, o de ter sustentabilidade em suas vidas.

Não podemos permitir é que as adversidades gerem a intolerância e a cultura da violência. É hora de dar um basta!

           É maravilhoso ter  a  certeza que construir o saber é possível a todos.                                                       

Lutemos por um mundo mais justo!!!

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Texto Coletivo final completo do Encontro de alunos 2012.ppt582.5 KB